Cinco cachorros morreram durante um mutirão de castração promovido na última semana pela Prefeitura de Jacareí. Segundo a administração municipal, os animais pertenciam a quatro tutores diferentes e passaram pelo procedimento cirúrgico que era realizado por uma empresa contratada pela própria Prefeitura. As causas das mortes ainda estão sendo investigadas.
Entre os dias 09 e 13 de abril, a Diretoria de Proteção e Bem-estar Animal da prefeitura de Jacareí promovia um mutirão de castração na cidade. Os procedimentos eram realizados em um castramóvel. Veículo adaptado para procedimentos cirúrgicos de baixa complexidade. A responsável pelas cirurgias era a Clinica Veterinária Pet Mogi que tem sede na cidade de Mogi Mirim.
A prefeitura confirmou a reportagem da CBN Vale que três cachorros morreram já no primeiro dia do mutirão, na quarta-feira (09). Ainda assim o serviço continuou a ser realizado pela empresa contratada sendo paralisado apenas no sábado (12), após outros dois animais morrerem depois de também terem passado pela cirurgia.
Ainda no sábado a noite a prefeitura, por meio de suas redes sociais, fez um comunicado para informar sobre o cancelamento das castrações que estavam previstas para acontecer no domingo (13), mas não entrou em detalhes sobre o porque do cancelamento, alegando apenas ‘problemas técnicos’.
Em nota oficial, a administração lamentou os óbitos e informou que um Comitê de Acompanhamento foi formado para investigar o caso. O grupo é composto por representantes da Secretaria de Meio Ambiente e da empresa responsável pelas cirurgias, a Pet Mogi. A Prefeitura afirmou ainda que encaminhou o caso ao Conselho Regional de Medicina Veterinária.
“Neste momento, a investigação está em processo de levantamento das informações para análise e autorização dos tutores dos animais para a realização de necropsia (apenas um ainda não autorizou).
A empresa também foi notificada para que apresente informações sobre medicação e dados completos dos quatro dias de castração”, disse a Prefeitura.
A Prefeitura destacou que todos os protocolos veterinários foram seguidos rigorosamente, desde a triagem até os cuidados pré e pós-operatórios e apontou a importância da castração alertando para possíveis casos de omissão ou imprecisões nas informações prestadas pelos tutores que podem acabar comprometendo a segurança dos procedimentos.
“A castração possui uma importância significativa para o bem-estar de cães e gatos. As investigações vão apontar as reais causas dessas mortes, mas não podemos descartar a possibilidade de alguma falha no preparo dos animais ou nas informações prestadas por seus tutores, por isso enfatizamos sempre a importância de seguir todas as recomendações como o jejum de alimentos e água, e a não participação de animais com sintomas de doenças ou fora da faixa etária recomendada (de 3 meses a 8 anos)”, acrescentou.
A Prefeitura disse ainda que a empresa Pet Mogi é especializada em castrações em larga escala e possui um histórico de mais de 50 mil cirurgias, sendo mais de 2 mil delas realizadas em Jacareí.
O contrato entre a prefeitura de Jacareí e a empresa Pet Mogi foi firmado em 02 de maio de 2024, por um período de 12 meses, pelo valor total de R$ 399.095,00, conforme consta no Diário Oficial do próprio município.
Especialista chama atenção para alternativas mais seguras de controle da população animal
De acordo com o médico veterinário e especialista em direito animal Dr. Henrique Guérin, a castração convencional, que é comumente realizada em mutirões promovidos em diversas cidades brasileiras, pode trazer riscos adicionais aos animais: “Esse tipo de castração envolve a retirada completa do útero (em fêmeas) e dos testículos (em machos) e pode provocar hemorragias decorrentes da incisão de vasos sanguíneos. Além disso, a extirpação total dos órgãos reprodutivos em animais antes do amadurecimento completo pode comprometer o desenvolvimento psíquico e músculo-esquelético dos pets”, apontou.
Como alternativa, o especialista recomenda a vasectomia em machos jovens, procedimento no qual é realizada apenas a incisão do ducto deferente, e a laqueadura em fêmeas, com o corte e amarração das trompas de falópio.
“Essas técnicas são menos invasivas e oferecem menor risco cirúrgico e pós-operatório, preservando a produção hormonal essencial na fase de crescimento”, disse Dr. Guérin, acrescentando que “em animais adultos maduros e idosos, a castração completa (orquiectomia e ovário-salpingo-histerectomia – OSH) é recomendada devido à maior incidência de doenças hormônio-dependentes, como câncer de mama e de próstata”.
A prefeitura de Jacareí informou ainda que os animais que passaram pelo mutirão de castração e continuam em tratamento, estão sendo monitorados pela equipe veterinária da empresa e da Diretoria de Proteção Animal. Os tutores que tinham castrações agendadas para o domingo (13) foram reagendados com prioridade em uma nova edição do mutirão ainda sem data definida.
Em nota a empresa Pet Mogi informou que lamenta profundamente o ocorrido.
“Diante desse incidente, instauramos imediatamente um procedimento interno para esclarecer todas as circunstâncias envolvidas. Além disso, estamos colaborando intensamente com as autoridades competentes e especialistas da área para apuração dos fatos”, diz.
Ainda de acordo com a Pet Mogi, cerca de 12 médicos veterinários trabalhavam no mutirão realizado na última semana em Jacareí.