Papa Francisco, um legado de simplicidade e justiça social

Papa Francisco, um legado de simplicidade e justiça social
Foto: ©HolySeePressOffice/Vatican Media

O Vaticano confirmou, nesta segunda-feira (21), a morte de Jorge Mario Bergoglio, o Papa Francisco, aos 88 anos. Primeiro pontífice latino-americano e jesuíta a comandar a Igreja Católica, Francisco será lembrado por sua trajetória marcada pela humildade, pela defesa dos pobres, pelo diálogo com minorias e pela luta contra injustiças sociais, ambientais e religiosas.

Francisco assumiu o papado em 2013, após a renúncia de Bento XVI, tornando-se o 266º papa da história da Igreja. Nascido em Buenos Aires, Argentina, em 1936, optou por viver de forma simples, recusando o luxo dos aposentos papais e usando um crucifixo de latão em vez de ouro. Preferiu morar na Casa Santa Marta, residência de hóspedes do Vaticano, e conquistou o mundo com seu jeito próximo e acolhedor.

Durante seus 12 anos de pontificado, adotou posições corajosas e, muitas vezes, inovadoras dentro da Igreja. Em 2023, autorizou o voto de mulheres no Sínodo dos Bispos — um dos eventos mais importantes do catolicismo — e aprovou a possibilidade de padres abençoarem casais homoafetivos, gesto inédito na história da instituição.

Papa Francisco, um legado de simplicidade e justiça social
Foto: Tânia Rego/Agência Brasil

Porta-voz dos mais necessitados – Simplicidade

Francisco também teve um papel importante ao enfrentar temas delicados, como os abusos sexuais dentro da Igreja. Criou um canal oficial de denúncias e reforçou o compromisso de investigação e acolhimento às vítimas. Combateu a doutrina da descoberta, ideologia colonial usada para justificar a escravidão de povos originários, e condenou abertamente guerras e desigualdades.

Durante a pandemia da Covid-19, protagonizou uma das imagens mais marcantes do período: sozinho, rezando sob a chuva na Praça São Pedro vazia. Na ocasião, disse que o mundo havia sido surpreendido por uma “tempestade inesperada e furiosa”, que expôs a fragilidade e a necessidade de união da humanidade. Também alertou líderes globais sobre o risco de um “genocídio viral” e pediu que as vidas fossem prioridade, acima da economia.

Papa Francisco, um legado de simplicidade e justiça social
Foto: Santuário Nacional/ Thiago Leon

Em sua passagem pelo Brasil, em 2013, durante a Jornada Mundial da Juventude, foi calorosamente recebido pelos fiéis no Rio de Janeiro. Bebeu chimarrão, desceu do papamóvel para abraçar fiéis e fez discursos firmes em defesa dos mais pobres, com críticas à desigualdade e ao descaso com as instituições.

Foi sob sua bênção que, em 2019, a beata Irmã Dulce foi canonizada como a primeira santa nascida no Brasil, com o título de Santa Dulce dos Pobres. O gesto simbolizou sua proximidade com os mais necessitados e sua devoção às causas sociais.

Nos últimos anos, Francisco manteve vigilância constante sobre conflitos internacionais. Desde o início da guerra entre Israel e o Hamas, fazia ligações diárias para uma paróquia na Faixa de Gaza, mesmo durante períodos de internação. Em 2022, presidiu o funeral de Bento XVI — algo inédito na Igreja — e, em 2024, aprovou reformas nos ritos funerários papais, preferindo ser sepultado na Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, em um caixão simples de madeira, contrariando a tradição dos papas sepultados sob a Basílica de São Pedro.

A morte de Francisco encerra um pontificado que ficará na história não apenas pela coragem de suas decisões, mas pelo exemplo de humildade, compaixão e amor ao próximo que marcou cada passo de sua caminhada.