Microplásticos atingem santuário marinho em São Sebastião, diz estudo

Microplásticos atingem santuário marinho em São Sebastião, diz estudo
Foto: Divulgação / ICMbio

Um estudo recente revelou que até mesmo as áreas marinhas mais protegidas do Brasil, como o Arquipélago de Alcatrazes, no Litoral Norte de São Paulo, não estão livres da contaminação por microplásticos. Localizado próximo à cidade de São Sebastião, o arquipélago é um refúgio de vida selvagem e um dos pontos mais preservados do país, mas registrou a maior concentração de microplásticos entre as áreas analisadas na pesquisa.

Os microplásticos são pequenas partículas de plástico, muitas vezes invisíveis a olho nu, que resultam da fragmentação de objetos maiores ou são produzidos diretamente em tamanho reduzido para uso em produtos industriais e cosméticos. Eles podem ser transportados por ventos e correntes oceânicas, chegando a locais distantes, como o Atol das Rocas, onde não há atividade humana.

A pesquisa, realizada por cientistas brasileiros e australianos, utilizou moluscos como ostras e mexilhões para medir a contaminação. Esses animais, conhecidos como “sentinelas do mar”, filtram a água e acumulam poluentes, servindo como indicadores da saúde dos oceanos. O estudo mostrou que, embora a contaminação em áreas protegidas como Alcatrazes seja menor do que em regiões urbanas, como Santos e Rio de Janeiro, ela ainda é preocupante.

Além de Alcatrazes, também participaram do estudo: Parque Nacional de Jericoacoara (CE), Atol das Rocas (RN), Fernando de Noronha (PE), Rio dos Frades (BA), Abrolhos (BA), Tamoios (RJ), Guaraqueçaba (PR), Carijós (SC) e Arvoredo (SC).

A pesquisa foi financiada pela FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) e publicada na revista Environmental Research.

Microplásticos atingem santuário marinho em São Sebastião, diz estudo
Foto: Divulgação / ICMBio

Arquipélago de Alcatrazes registra a maior concentração de microplásticos no estudo

No Arquipélago de Alcatrazes, foram encontradas 0,90 partículas de microplásticos por grama de tecido dos moluscos, a maior taxa entre as dez áreas analisadas. Apesar disso, os níveis estão abaixo da média internacional para áreas marinhas protegidas e muito abaixo da média brasileira em regiões não protegidas.

Segundo Ítalo Braga, coordenador da pesquisa e professor do Instituto do Mar da Universidade Federal de São Paulo (IMar-Unifesp), a presença de microplásticos em áreas tão restritas mostra que a poluição é um problema global. “Mesmo em locais onde não há atividade humana direta, os microplásticos chegam trazidos pelo vento ou pelas correntes marítimas”, explica.

Entre os materiais identificados estão polímeros usados em tintas de barcos, fibras de roupas e até resíduos de embalagens plásticas. A pesquisa reforça a necessidade de medidas globais para combater a poluição por plásticos, como o Tratado Global dos Plásticos, atualmente em discussão pela ONU.

O Arquipélago de Alcatrazes, conhecido por sua rica biodiversidade e beleza natural, é um alerta de que a proteção ambiental precisa ir além da criação de áreas preservadas. “A gestão eficiente e a fiscalização são essenciais, mas só ações globais podem mitigar esse problema”, conclui Braga.