Ainda repercutindo a tragédia das chuvas ocorrida no último final de semana, no Litoral Norte, o colunista do quadro CBN Política Regional, Helcio Costa, falou em solidariedade, respeito, mas acima de tudo, de responsabilidade do poder público. Confira o comentário desta quinta-feira (23).
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Três coisas ficam da tragédia que se abateu sobre o Litoral Norte neste Carnaval: as lições de solidariedade, que podem ser resumidas na imagem de duas crianças sendo resgatadas em meio à lama, em São Sebastião, graças a uma corrente humana; a coragem e a dedicação das equipes de resgate; e a triste certeza de que flagelos como esse, infelizmente, vão se repetir.
Choveu muito acima da média, é verdade …
A maior chuva da história do país resultou em uma tragédia gigantesca –mais de 40 pessoas mortas, mais de 40 desaparecidas, 3.545 desalojadas ou desabrigadas, boa parte em São Sebastião. Os números, imagens e relatos são impressionantes.
O mais impressionante é constatar que eles repetem, em maior dimensão, o que já vimos em Angra dos Reis, Minas Gerais e no Sul da Bahia em chuvas passadas. Uma somatória de causas naturais (uma chuva recorde, como essa) com o descaso contínuo com que autoridades tratam, ao longo de décadas, a ocupação desenfreada de áreas de risco, encostas de morros, beiras de rio.
Autoridades que investem pouco para evitar tragédias como essa. A verba federal destinada à prevenção de desastres como o de São Sebastião é a menor em 14 anos. Para gastar dinheiro a rodo em busca de sua reeleição, Jair Bolsonaro cortou em 94% a fatia do Orçamento destinado à contenção de encostas. Sobraram menos de R$ 3 milhões. A PEC da Transição aumentou essa verba, mas o valor ainda é muito baixo.
Dados oficiais mostram que 10 milhões de pessoas moram em áreas sujeitas a deslizamentos e alagamentos no país. É o enredo de uma catástrofe anunciada, como a que ocorreu neste Carnaval. Aliás, tragédia feita de detalhes. O Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais, instalado aqui, em São José dos Campos, havia dado, já na quinta-feira (16), um alerta de chuvas intensas no litoral, mas o volume d’água superou o esquema de prevenção.
Estradas rodaram, o morro veio abaixo, a lama tomou conta de ruas, casas, atingiu praias. Em meio ao caos, voluntários relataram que as Unidades de Saúde não tinham sequer material de primeiros-socorros. Essa soma de problemas, pequenos e grandes, resultou em calamidade. Agora, o Ministério Público do Estado informou que vai apurar eventual responsabilidade dos gestores locais na potencialização dos efeitos das chuvas e na falta de iniciativas para remoção de moradores de áreas de risco. É um passo. Outros precisam ser dados …
Minha solidariedade às famílias atingidas por essa tragédia. A dor delas é indescritível. A nós cabe a tarefa de refletir sobre o que ocorreu, debater causas e efeitos, identificar erros, para tentar evitar que tragédias como essa se repitam. Uma forma de evitar que outras famílias venham a sofrer, no futuro, com o descaso crônico do poder público. Segue o baile …