Alesp pede desculpas à Dom Orlando após ataques de deputado do PSL

(Foto: Divulgação/Alesp)

O presidente da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), deputado Carlão Pignatari, pediu desculpas ao Papa Francisco e a Dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, após o deputado Frederico D’Avila (PSL) ter usado a tribuna para chamar os religiosos de “vagabundos”, “safados” e “pedófilos”. O pronunciamento foi feito logo na abertura da Sessão de segunda-feira (18).

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Em nome da Alesp, Pignatari fez um pedido expresso de desculpas também à CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), que rejeitou o discurso feito por D’Ávila em 14 de outubro. De acordo com o presidente da Assembleia, as palavras ditas pelo deputado na última semana não representam a opinião da instituição.

Frederico criticou a fala do religioso durante missa solene em Aparecida, no feriado de 12 de outubro, onde disse que o Brasil, “para ser pátria amada, não pode ser pátria armada”O religioso não citou diretamente o presidente Jair Bolsonaro, mas é do conhecimento de todos que o chefe do Executivo é favorável ao armamento da população.

O parlamentar refutou a declaração de Dom Orlando e disse, na tribuna, que o religioso “se esconde atrás de sua batina para fazer proselitismo político e para converter ‘pessoas de bem’ à sua ideologia”, referindo-se a uma preferência de esquerda. Além disso, o deputado também atacou o Papa Francisco, ao afirmar que Dom Orlando se submete “a esse papa vagabundo”.

(Foto: Divulgação/Alesp)
CARTA ABERTA

A CNBB publicou uma carta aberta endereçada ao presidente da Alesp e aos brasileiros, rejeitando fortemente “as abomináveis agressões proferidas pelo deputado”, que “com ódio descontrolado, atacou o Santo Padre o Papa Francisco, a CNBB, e particularmente Dom Orlando Brandes”. O documento foi entregue pessoalmente pelo bispo diocesano de Mogi das Cruzes e presidente da Regional Sul da CNBB, Dom Pedro Luiz Stringhini.

Abaixo, a íntegra da manifestação do presidente da Alesp:

”Não há como abrir esta sessão de hoje de maneira diferente: Em nome de todo o parlamento paulista, como presidente desta Casa, repudio todo e qualquer uso da palavra que vá além da crítica e que se constitua em ataques, extrapolando os limites da liberdade de expressão e da imunidade parlamentar, concedida aos representantes públicos eleitos.

Aliás, todo excesso no uso da liberdade de expressão acaba por agredir este mesmo direito, pilar fundamental da democracia, que é consagrada como bem maior da sociedade brasileira. Para o político, o dom da palavra é um direito inalienável. Mas que encontra limites no respeito pessoal e da própria lei. Não comporta, portanto, a irresponsabilidade e o crime.

Da tribuna fala o povo, que por cultura da sociedade brasileira, comunga da união e do amor ao próximo, independentemente do seu credo. A tribuna é ponto de convergência, permitindo opiniões contrárias, mas jamais a pregação do ódio. Em nome do Parlamento paulista, eu rogo um pedido expresso de desculpas ao Papa Francisco e a dom Orlando Brandes, arcebispo de Aparecida, a quem empregamos nossa mais incondicional solidariedade.

A palavra não é arma para destruição. Ela é um dom. É construção. Todo deputado estadual tem o dever de representar o povo, ouvir as pessoas e fazer valer seu compromisso com São Paulo. Mas vir à tribuna, lugar mais importante desta assembleia, para proferir ofensas é algo que não pode ser aceito. Em nome do parlamento paulista, é nosso dever o reestabelecimento do respeito, antes de tudo, à democracia.

Peço desculpas também a todos que se sentiram ofendidos pelas palavras que não representam a opinião da Assembleia Legislativa de São Paulo. Acredito que o parlamentar também reconheça seu excesso e o espaço permanece livre para eventual retratação.

Mais uma vez, digo que o nosso compromisso é com a verdade, com o cidadão, com o respeito e com a coerência. E como presidente desta Casa, faço um apelo para que os extremos entendam, de uma vez por todas, que a divergência legitima a democracia. Mas não justificam a barbárie.”